Ora boas!
Demorou, mas cá está ele: o texto descritivo-informativo que vai dar a conhecer um pouco melhor o workshop onde
trois figuras ilustres (Eu, Diogo e - quem mais? - Carlos Duarte) transformaram diabos, diabinhos e diabretes em pequenada capaz de fazer um pouco de teatro.
O feito ocorreu entre os dias 30 de Março e 3 de Abril. A data é importante, acima de tudo, para que se possa perceber o curto espaço de tempo que tivemos para encenar, a partir da estaca zero, uma peça com a malta Freixieiroense e/ou Perafitense. Acerca das localidades, um facto peculiar. É curioso como dizer só Freixieiro ou só Perafita não soa, nem de perto nem de longe, tão bem como dizer as duas juntas, ou seja, Freixieiro-Perafita.
Posto isto, importa agora relatar os factos da semana absolutamente diferente de tudo o que já foi vivido pelos três "stôres" (como os miúdos teimavam em chamar). É que nem com "tolas" conseguiríamos imaginar para o que íamos. "Tolas" estas que vão assumir um papel de maior destaque mais adiante. Tal como eu gosto, vamos por partes.
Day 1O ponto de partida desta semana foi, para mim, um dos pontos altos. Estava eu à espera em casa que os outros dois "formadores" me viessem buscar até que recebo o toque do Diogo, aquele toque que toda a gente dá e que quer dizer "anda cá para fora, estou a chegar". E não é que Carlos Duarte, que muito poucas vezes se tinha deslocado ao
Principado, perturba logo a pacata hora de almoço desta famigerada localidade?! Apenas e só, disse (com a janela do carro totalmente aberta, debruçado sobre a mesma e com a cabeça de fora): "É só formadores de teatro!"
Depois de dado o mote, seguiu-se a viagem até Sta Cruz do Bispo, perto de Freixieiro-Perafita (cá está, sempre as duas lado a lado). A viagem foi pautada pela curiosidade, sobretudo sobre o que íamos encontrar na Casa da Juventude de Sta Cruz do Bispo. Sabíamos que íamos encontrar juventude (dah!), entre os 13 e os 15 anos. Mas que "tipo" de juventude? Faltava pouco para saber.
Chegados a
Saint Cross of the Bishop, muito bem orientados pelo Chocolari ("
Na rotunda, saia ná sigunda saída" - ler com sotaque à Scolari), o Carlos solta logo uma frase ilucidativa: "
Hey, eu já aqui estive. Já vim penhorar aqui alguém. Oh que caralho, ainda penhorei o pai de algum dos miúdos! Vai aparecer aí a dizer "filho da puta, levaste-me a máquina de lavar e agora ando com roupa suja". Tou fodido!". Depois disto, cigarrinho e café enquanto se esperava pela "chefinha".
A "chefinha" chegou e, depois de alguns esclarecimentos, era hora de começar a labutar. Começamos, como é óbvio, pela nossa apresentação. Mas não é isso que interessa para aqui. Interessa, isso sim, apresentar os nossos pupilos. Ei-los:
João Martins - pouco a dizer sobre este puto; era dos mais "normais".
Flávio "Raquetes" - o típico "chato com'à putaça"; sempre a rir-se e a falar mas depois nunca era ele; um dos grandes candidatos à "Chapada de Ouro" se pudessemos dar pancada.
Marta - a miúda andou a semana toda agarrada a um urso e, mais tarde, agarrou-se ainda a outro "urso"; um coto esquizo; é preciso dizer mais alguma coisa?
Bárbara - voz um bocado estridente; a mais "normal" e a mais fácil de lidar do sector feminino.
Gonçalo - parecia ser um rapaz pacato mas revelou-se um pouco atrevido, adoptando, por vezes, posturas menos próprias a roçar o desrespeito; no final, não foi dos piores.
Francisco, a.k.a. Xiquinho - o Carlos quis adoptar este miúdo; rapaz com mais jeito e espírito para o teatro.
Lopes - o gordo de serviço; como diria o Alexandrino, este rapaz anda sempre firme e hirto; falar alto não era com ele, muito menos mexer-se; no final, conseguimos altos progressos, constituindo, talvez, uma das nossas maiores vitórias.
Daniel - nem sei o que dizer sobre este; fez de Paulo Bento, chega?
José - que figura, só visto mesmo; nem o Miguel Veloso conseguiu encarnar muito bem, o que retrata as dificuldades sentidas pelo jovem.
Diana - não conseguiu simular a sua própria morte, nem que fosse só agarrar o pescoço e cair de joelhos; mas na rua e com os rapazes já demonstrou muito mais expressividade; enfim...
André "Di Maria" - o puto era o Di Maria chapado; esteve bem no seu papel de bêbado, apesar de falar sempre na mesma posição e só quando se calava é que se lembrava que era bêbado e lá dava dois passinhos para trás, como quem perde o equilíbrio.
Bruno - é o outro "urso" a quem a Marta se agarrava; e mais não digo.
Daniel "Morangos" - a figura do sector masculino; este puto, mesmo digno deste nome, tinha a mania; dançava hip hop, queria ser actor mas em palco só se mexia, se é que se mexia, quando lhe diziam; traço mais peculiar, a forma de falar dele: dentinhos meios de fora, por cima do lábio e nos S assobiava que nem um pardalito; "impressionante".
Laura - Meu Deus, difícil até dizer chega; era a badochinha de serviço e não queria nada com aquilo; até me admiro como é que conseguimos fazer com que ela se vestisse meio à homem; sim, conseguimos pouco mais com esta figura.
Este primeiro dia serviu para as apresentações, alguns jogos para deixar a malta mais à vontade e entrar no espírito do workshop. Contudo, serviu também para termos consciência que ia ser uma semana de luta, o que levou o Carlos a afirmar: "eu não venho para aqui sóbrio".
Day 2O mais importante deste dia nem teve a ver com o workshop. Primeiro, foi o Carlos a cumprir a promessa de não ir sóbrio (com substâncias menos próprias que não interessa referir mas que foram consumidas no passeio público em frente ao Novo Oriente) e, depois, foi a paragem nas bombas de gasolina da Galp logo a seguir ao Nortshopping para tomar café (nós sem café não conseguíamos levar aquilo para a frente da mesma maneira). E que café! Em primeiro lugar, era ver o Carlos, qual funcionário, encostado à máquina, munido de trocos para os cafés de todos, a tirar os ditos cujos. O problema foi que, para além da máquina demorar uma eternidade para tirar os ditos cujos, os cafés saíam a, passo a citar o Carlos, "a 700º centígrados". O funcionário do posto de abastecimento tentava permanecer impávido e sereno mas não se viu livre de nós sem levar uma reprimenda do Carlos: "Maninho, eu sei que a culpa não é tua mas têm que trocar a máquina. Café a 700º?! O que é isto??"
Em termos de workshop, foi dada continuidade ao que foi feito no dia anterior. Jogos (eles queriam era jogos!) e início mais a sério dos ensaios para a peça.
O mais peculiar deste dia foi mesmo o que se passou na viagem de regresso. Estávamos nós a passar pelo NorteShopping quando surge, ao nosso lado, um indivíduo com uma valente motona, a típica Chopper, com matrícula italiana. O sujeito vestia um colete e umas calças de fato-de-treino cinzentas. O mais jocoso/perturbador foi que as calças estavam abaixo do seu nível normal em relação à cintura e permitiam visualizar o "grand canyon". Eu e Diogo ríamos quando Carlos dispara: "É o Fernando Couto". Ficámos estupefactos. Prosseguiu: "A matrícula não era italiana?". Confirmamos. Concluiu: "Pelo rêgo do cu e se a matrícula era italiana, era o Fernando Couto. Ele tem uma mota daquelas". Não é preciso tecer mais comentários, pois não? Aposto que os leitores estão a pensar o mesmo que eu e o Diogo pensámos na altura. Adiante...
Day 3Faltou o Carlos, o que desde já permite perceber que não foi a mesma coisa. Dar formação de manhã (às 9 da matina!!) a putos?! Joguinhos e mais ensaio que a gente não se queria chatear muito...
Day 4Fui, literalmente, lançado às feras! Estive sozinho com a matilha metade do tempo, que é como quem diz duas horas e meia. Mas não culpo os meus companheiros, tiveram outros afazeres. A sessão começou com meia hora de atraso (eles não se calavam) mas, para compensar, não houve jogos e eles levaram com ensaio atrás de ensaio. Também estávamos na véspera do dia D, só lhes fez bem.
Facto digno de registo. Eu e, mais tarde, o Diogo tivemos que ser um pouco mais rígidos com eles, para que pudesse haver condições de trabalho e o dia não fosse dado como perdido. O problema é que quando estava tudo mais ou menos concentrado e controlado, eis que surge Carlos Duarte a distribuir beijinhos e abraços que nem um presidente em dia de campanha eleitoral. Depois, é claro que era do Carlos que eles gostavam mais. Tinha que ser! Pelo menos, no fim reconheceu os progressos que conseguimos com o cardume de peixinhos...
Day 5O dia D, o dia do espectáculo. Para começar bem, fomos tomar café ao "Delícia" e tentar arranjar os adereços necessários para a peça. O mais curioso foi irmos aos "chinocas", para tentar comprar um martelo "à juiz" e, depois de explicarmos ao oriental o que queríamos, ele indicou-nos um martelo "à trolha". Eu achei que devíamos ter utilizado o instrumento mas os meus companheiros não foram da mesma opinião. Acabámos por comprar apenas um mini-estojo de maquilhagem para pintar um olho de negro ao Lopes. O que inicialmente custou €1,50, acabou por ser comprado por €1,95. Rais parta as chinesices...
Chegámos atrasados porque estava um trânsito do caraças mas houve alguém que chegou mais tarde, o
mister de dança, o Salazar! Resumindo a coisa, que isto já vai longo, lá preparámos os miúdos para o espectáculo (roupas, pinturas e tal) e deu-se início ao mesmo, mas um de fazer corar o La Féria! Quer dizer, pelo menos a nossa parte. É que enquanto na parte das marionetas até personagens com o guião na mão havia, a parte da dança não foi, de todo, do agrado da "chefinha". Não é preciso dizer mais nada.
Considerações finaisAntes de mais, somos os maiores! É verdade. Não é para menos. Quem transforma diabos, diabinhos e diabretes em "actores" por alguns minutos, tem alguma coisa de especial. Mais: a "chefinha", que não gostou da dança, adorou a nossa parte e selou a ocasião com um sentimento claro, "que seja o primeiro de muitos trabalhos". E nós cá estaremos para transformar o que quer que seja em "actores". Não somos actores, fazemos teatro, e conseguimos pôr outras pessoas a fazer teatro. Essa é que é essa.
Foi uma curta longa semana. No final do último dia, o Carlos quase que conseguia realizar o seu sonho: raptar o Xiquinho. Quase, mas não conseguiu. Limitou-se ao mais importante, alertar o pai para o potencial do filho.
Não sei o que dizer mais. Acho que o mais importante está aqui. Gostaria, por último, de dizer que já há DVD deste workshop. Já o vi e, se possível, também o verão. Pode ser que consigamos colocar aqui, no melhor blog do mundo, imagens desse espectáculo memorável.
"E tudo começou na Casa da Juventude de Sta Cruz do Bispo...."
"Isso é o mínimo, Sr. Dr. Juiz", a Administração.