sábado, 20 de fevereiro de 2010

Modernices...

Meus caros ... leitores,
Aquilo que em baixo vos irei apresentar consiste numa participação de um acidente que, a meu ver, mais não é do que uma "profunda e sentida" homenagem ao tão propalado acordo ortográfico.

Caso alguns de vós sejam assíduos leitores do jornal "Record" (o que, descansem, não é o meu caso!), ou pelo menos passem as vossas vistas por lá de vez em quando, podem constatar que este jornal de "1ª linha" aderiu ao referido acordo. Caso não tenham conhecimento disso, acho que devem dar uma espreitadela, quanto mais não seja para apreciar a bela forma como o mesmo está organizado, mais concretamente:
Somos capazes de estar a ler uma página sobre a primeira liga, a seguir já estamos a ler, de forma inesperada, o que se passa no andebol cá do burgo, como a seguir passamos ao futebol internacional, para finalmente voltarmos à secção sobre a primeira liga...

Isto é o que eu chamo ter "cada macaco no seu galho"!

Enfim, deixando de parte os jornais desportivos,espero que se deliciem com a amostra que aqui vos deixo e já agora, tirem um momento para reflectir sobre a qualidade com que se escreve neste nosso "paraíso sob escuta".

É caso para dizer: com um português deste calibre, quem precisa de um acordo ortográfico?













Ortograficamente, a Administração.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Senhoras e Senhores...


...João Manuel Pinto.

Esta é, sem dúvida, uma das melhores entrevistas a jogadores e ex-jogadores de futebol. Nem digo mais nada. Leiam e percebam vocês a razão.

"O Paulinho Santos detestava o João Vieira Pinto, aliás detestava o Benfica"

Este é João Pinto. Não confundir com o outro, o João Pinto do FC Porto, com quem jogou, nem com João Vieira Pinto, com o qual não fala desde 2001, depois de lhe ter cuspido na cara. Este não foi um artista mas jogou no Belenenses, no FC Porto e no Benfica. E ganhou oito títulos, todos no Dragão. Quando se fala de túneis e agressões, este João Pinto, o João Manuel Pinto, tem um par de histórias para contar. Na primeira, na segunda e na terceira pessoas.

Que é feito do João Manuel Pinto?

O João Manuel Pinto abriu agora uma escola de futebol aqui, em Tarouca, ao pé de Lamego. E está a correr bem, é uma coisa que sempre quis. Os meus sonhos sempre foram muito pequeninos. E concretizei-os quase todos. Mas também gosto de sonhar pouco [risos].

E o futebol deu-lhe aquilo de que precisava?

Obviamente gostava de estar muito melhor posicionado, como outros grandes craques, como o Rui Costa, e ter ganhado grandes salários [risos]. Mas primeiro a saúde e depois que venha o resto.

Mas teve juízo a gerir o dinheiro?

Sim, sim... Quer dizer, há sempre aquelas coisas da juventude. Sabe como são os jogadores de futebol com os carros de grande cilindrada. E eu não fugi à regra, não é? Comprei o meu Porsche Turbo - lá está, outro sonho desde pequenino, mas este era um sonho grande - quando fui para o FC Porto, em 1995.

Tinha 22 anos e vinha do Belenenses nessa altura. Como foi chegar ao FC Porto?

Fui muito jovem para o FC Porto e chego lá e vejo grandes jogadores, símbolos, mitos do clube. Dias maravilhosos com títulos, festas. O Jorge Costa era o maior, impunha as regras, profissionalismo, sempre a querer levar o clube mais longe. Mas o Paulinho, o André, o João Pinto... enfim... Está a ver a gama, não está? Foi um prazer aprender lá.

Foi Bobby Robson quem mais o marcou?

Sempre com um sorriso. Não era só o trabalho, mas o prazer que nos proporcionava a trabalhar. Divertíamo-nos. Eu era uma espécie de arma secreta dele, entrava a ponta-de-lança para marcar golos por ser alto. E a coisa dava resultado! Ele tinha um feeling especial para as substituições. O Bobby tinha arte no que fazia. As expressões... [risos]. Não falava bem português e dava-nos para rir. Era um treinador engraçado.

E porque é que o Jorge Costa é o Bicho?

Eh pá, por ser forte fisicamente, um comboio. Naquela hora e meia jogava a vida.

O João ganhou oito títulos e foi parar à equipa B. Como é que isso aconteceu?

Políticas, empresários - e o jogador às vezes é apanhado no meio. Havia uma rivalidade forte entre o meu manager, que era o Veiga, e o presidente Pinto da Costa - e paguei eu. Confiava no Veiga e, quando chegavam propostas do estrangeiro ao FC Porto para me contratarem, ia sempre dizendo que não, a conselho dele. "Não faças isso porque tenho outros interessados."

Arrependeu-se?

Temos segundos para decidir a vida. Não sabia o que fazer. Se previsse, teria escolhido sempre a opção certa.

Está-me a dizer que escolheu a errada.

Obviamente que não foi uma opção muito boa para mim, mas acabei por ir para o Benfica.

E como é que isso se processou?

A seis meses de acabar o contrato, recebi uma proposta do Sporting, porque o Veiga dava-se bem tanto com o Sporting como o Benfica. Mas a escolha foi do meu empresário e eu acabei por concretizar um sonho (este dos grandes!) porque sempre fui benfiquista! Era uma coisa de criança, mas perdi dinheiro.

E o FC Porto pagou-lhe o que devia?

Sim, sim. Não cumpriram comigo durante três meses por causa das politiquices, mas ficou tudo resolvido.

Chega ao Benfica e a capitão de equipa.

E em apenas seis meses! Foi tudo tão rápido... O Meira, que era o capitão, tinha ido para a Alemanha e o Enke, o capitão seguinte, deixou de jogar pelo Benfica. Depois era o Drulovic e eu na hierarquia.

E caiu bem no balneário? Afinal de contas, eram dois ex-FCP com a braçadeira.

Havia três... Três, não! Quatro, eu, Argel, Zahovic e Drulovic. E viemos para um clube que estava em reconstrução. Tinha tido aquele presidente que fez o que fez [Vale e Azevedo]. Quando entrei no Benfica fiquei de boca aberta com as condições do clube. Estava em cacos!

Mas em pouco tempo passou de titular e capitão a suplente.

Quando saiu o Jesualdo... O Chalana, no jogo de transição, põe-me de fora e o Miguel, que na altura não era este Miguel, a lateral. E o Camacho a ver aquilo da bancada. Pronto, a equipa ficou praticamente feita [3-0 ao Braga]. O Camacho trouxe cheiro a balneário e respeito.

Não havia respeito por Jesualdo?

Houve momentos em que alguns jogadores faltaram ao respeito. Ele não estava bem apoiado, sozinho a levar um barco. Tinha meia dúzia de jogadores com ele e o resto estava contra. Eu era um dos que estavam com ele.

E quem é que não estava com ele?

Não posso dizer.

Nem um?

[silêncio] Conhecemos o temperamento do Argel nos treinos, nos jogos. Obviamente que era um dos que não estavam com o Jesualdo. A gente nunca pode dizer nomes, mas basta ver quem jogava e não jogava. Quer dizer, depende. Há futebolistas que não sabem ficar no banco, como suplentes. Quando cheguei ao Benfica havia jogadores com a meia em baixo, sem caneleiras. Eh pá, por amor de Deus! O treino tem de ser um reflexo dos jogos. E às vezes entrava com uma certa dureza, para eles perceberem que não era assim. "Eh pá, olha aí que isto é um treino", diziam-me. E eu respondia-lhes: "Vai pôr caneleiras."

Por falar em caneleiras... Agora, no futebol português fala-se mais de túneis e de agressões do que em tácticas. Lembra-se do caso Weah?

Havia sempre alguns empurrões aqui e ali. Mas só estive realmente envolvido numa rixa horrível no célebre FC Porto-Milan [20 de Novembro de 1996, 1-1] nas Antas. Foi violento. Aquilo vinha de trás. O Jorge tinha pisado o Weah lá em Milão [3-2, para o FC Porto]. Todos vieram dizer que o Jorge tinha chamado "preto" ao Weah, mas conhecendo o Bicho não acredito nisso. O que aconteceu lá em Milão foi que o Jorge lhe pisou o dedo. E isso toda a gente sabe que foi de propósito. O Jorge era muito frio e físico, e o Weah teve o azar de ter marcado o golo e ter ficado no chão. O Jorge saltou e pisou-lhe o dedo, e o dedo ficou muito feio [risos]. No túnel das Antas foi tudo muito rápido e planeado pelos italianos. O treinador deles [Oscar Tabarez, uruguaio] fez um sinal ao Rossi para ir rapidamente para o túnel - e ele era grande, pá, nunca vi um guarda-redes tão grande como aquele homem! - e o Weah logo a seguir. O Jorge, inocente, não reparou. E quando olha para trás, o Weah manda-lhe uma cabeçada. Só vi o Jorge voar dois metros no túnel. E depois foi o que foi. Andámos todos ali à porrada.

E quem é que deu mais?

Só tive pena do [Edgar] Davids, coitadinho. Estava ali a querer serenar as coisas e foi o que levou mais.

Mas o João Manuel também teve os seus momentos. Como aquele com o João Vieira Pinto, quando um estava no Benfica e outro no Sporting.

Assumi a culpa. São coisas que não se deve fazer. Cuspi-lhe na cara e não o devia ter feito. Mas acredite que fiquei muito chateado com o João no último dérbi em casa, no velho estádio da Luz (2-2, 15 de Dezembro de 2001), quando ele disse aos jornais que eu devia ter sido expulso por ter dado muita porrada. O que é mentira, é só ver o vídeo! E eu disse para mim: "Para a próxima, cá te espero!" No jogo de Alvalade [1-1, 7 de Maio de 2002] andei o tempo todo à procura dele e não consegui ter nenhum contacto físico com ele... O treinador [Bölöni] pô-lo nas linhas e eu nunca consegui apanhá-lo a jeito para lhe dar uma fruta e lhe dizer ao ouvido algumas que não ficaria bem dizer aqui. Depois cuspi-lhe na cara e não o devia ter feito. No final do jogo tentaram apanhar-me, mas nós ficámos a bater palmas ao público e tal. Nunca mais falei com o João, nem ele tem nada de que falar comigo.

Então e no FC Porto como era ver os jogos com o Benfica e assistir ao clássico Paulinho Santos-João Vieira Pinto?

Não era nada fácil. O Paulinho era um jogador muito violento, queria ganhar tudo. Eu ria-me com aquelas coisas. Não aceitava, mas pronto - os clássicos são uma guerra. O Paulinho detestava o João. Perdão. O Paulinho detestava o Benfica e detestava o João por este ser o melhor jogador do Benfica na altura. Ele ia para a guerra com o objectivo bem definido: dar no João Pinto. Transformava-se noutra pessoa. E ninguém lhe podia dizer nada para o tentar acalmar porque senão ele ainda ficava chateado connosco!


(Retirado do Jornal i)


Entrevisticamente, a Administração.